segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Eu e o Funk Parte 2


O documentário Funk Ostentação ( http://www.youtube.com/watch?v=FOjHuJ0k1ME ) mais do que uma divulgação do Funk e seus artistas, é um material de grande potencial para análises sociológicas.

Fala de ostentar, portanto de consumir.

E isso dá muito pano prá manga.

Consumismo é um mal que atinge a humanidade há muito tempo. Ele corrompe, ilude, distorce conceitos éticos, promove selvagerias de todos os lados (do mercado e do consumidor). Atinge todas as classes sociais.

Muito se tem dito, por exemplo, sobre o consumo nas classes abastadas. Há pouco tempo houve uma enxurrada de matérias sobre o consumo infantil. Não mais aquele consumo de brinquedos, mas o de moda e estética. São meninas de 8, 9, 10 anos que vão ao cabeleireiro semanalmente, ou as de 6, 7 que usam saltos altos contrariando, com o aval de suas mães (imbecis/plastificadas) qualquer sinal de bom senso.

Nem vou tentar no assunto do ser/ter. Parece que a maior parte da humanidade definitivamente escolheu o ter e é por ele que é guiada.

Aí, chegamos a um detalhe básico. Vivemos na era da informação automática, imediata.

A divulgação de produtos lançados do outro lado do planeta, chegam até nós em poucos minutos. A manipulação de nosso interesse por eles também.

Todos queremos o que há de melhor. Sempre foi e será assim.

O problema fica por conta da capacidade individual de discernir até onde somos capazes de chegar para atingirmos nossos objetivos.

Pois bem. A tal informação rápida, chega às classes C, D e E  com a mesma rapidez.

A questão é que para as classes menos favorecidas a realização dos desejos está um pouco mais distante.
No documentário há uma participação do sociólogo Renato Meirelles, diretor do Instituto Data Popular  (  http://www.datapopular.com.br/  )cuja visita eu recomendo e muito!

Ele diz " O discurso da denúncia perde força para o discurso de celebração" , referindo-se ao processo de migração do funk agressivo e cheio de violência e palavrões para o da ostentação, carros e jóias.

Quem se der ao trabalho de ler os artigos do Data Popular voltados para o comércio específico para classes baixas, vai entender do que eu falo.

Voltemos à distância entre o consumo de luxo e as classes C,D e E.

É óbvio que a aquisição de sonhos traz alegria (felicidade e outra coisa) e que celebrar isso é natural. 

Natural também é que outros sintam-se estimulados a buscar caminhos para o pote de ouro.

E esse é o mote do Funk Ostentação, gente cantando o próprio sucesso, a ascensão social.

Dizer que houve aumento do poder de compra dessa faixa de mercado é tão fantasioso quanto dizer que não há inflação ou que o salário mínimo é suficiente. 

Houve aumento sim, do acesso ao credito, fruto da astúcia de comerciantes que sabem das boas e honestas intenções desses consumidores.

Abrir caminho para esse tipo de consumo cria nas pessoas ideias de crescimento que convenhamos, não suportaria um leve tremor nas estruturas econômicas do país. Mas continuará a crescer juntamente com o ganho com juros e mais juros.

E essa situação, é sustentada por aquele meu assunto favorito: educação. Quer dizer, a falta dela.

Ler os artigos do Data Popular e ouvir os depoimentos do documentário nos mostra o fato de que nada é mais simples do que convencer e guiar analfabetos funcionais. O pior é qe hoje eles já chegaram as classes A e B, portanto, um dia vão ocupar postos chave, de comando.

Ao invés de provocar arroubos de preconceito ou discussões sobre bom e mau gosto, o Funk Ostentação deveria mobilizar aqueles "educados" que ainda restam neste país para à partir do ritmo que faz a cabeça desses rapazes e moças. criar algo melhor e produtivo.

O que falta é a percepção de que aqueles produtos de luxo desejados deveriam vir acompanhados de detalhes dos mundos aos quais pertencem originalmente,  o conhecimento, a cultura, a educação  .

Ou será que não h´a mais "educados" interessados em outra coisa que não o consumo e a ostentação?

Portanto caro leitor, não importa se você consome selvagemente ao som de ópera, rock ou funk. O que importa é o peso da ostentação na balança da sua vida. 

3 comentários:

  1. PATRICIA

    No Domingo refletindo sobre compras, Black Friday, dia sem compras me veio um pensamento que mais ou menos coloquei em minha frase da manhã no TT. era assim:
    Será que queremos o último lançamento de tudo q pode ser adquirido porque é muito complicado lutar para ser um novo modelo de ser humano?
    Talvez meu pensamento não tenha muito a ver com seu texto mas senti vontade de colocar.

    Marisa Cruz

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  2. "Portanto caro leitor, não importa se você consome selvagemente ao som de ópera, rock ou funk. O que importa é o peso da ostentação na balança da sua vida".

    Por vezes ficamos muito na discussao superficial da qualidade do som, da composição, da tonalidade da voz e esquecemos de fazer o principal que a arte nos motiva: o pensamento, a manifestação livre e publica....

    Se existe muito Funk ruim, existe tambem muita opera horrivel e assim vai...

    Mas nao é essa a discussao, porem acabamos por nos furtar de uam dicussao bem maior e ficamos nessa mera discussao por conta de um mercado capital que nos impulsiona a isso.

    Parabens menina Patricia pela maravilhosa iniciativa na descrição do texto....

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  3. A sexualização das meninas e os abusos sexuais que elas sofrem de vizinhos, padrastos, parentes é algo de uma dimensão tão gigantesca que atormenta!

    O analfabeto funcional vive em um mundo paralelo, em que ele é manipulado facilmente e subjugado ao caos como progresso!

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