domingo, 26 de maio de 2013

Tradição e e evolução




Minha neta estuda em um colégio católico tradicional na região, muito antigo, muitos alunos e bem caro. Só está lá por insistência do pai que também estudou nele e guarda excelentes lembranças.

Tenho que admitir que a base estrutural da educação de meus filhos e o conhecimento acima da média que eles tem são resultado do que receberam no ensino fundamental.

Mas já no tempo deles (há mais de 20 anos!), eu tinha uma restrição ao que via acontecendo ali. Em períodos de fechamento de notas, quando as crianças tinham que entregar trabalhos, via na porta da escola que a maioria dos pais discutiam as notas recebidas pelos filhos. Comparavam desempenho mostrando os trabalhos entregues de uns e outros. Em geral notas boas. Até aí, tudo certo.
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O problema é que os trabalhos com maiores notas eram evidentemente feito por adultos!! E não era difícil confirmar isso. Facilmente os pais faziam comentários sobre quanto tempo precisaram para executar as tarefas....

Eu já me perguntava como os professores podiam aprovar isso?  Mas o faziam.

Aqueles alunos são os empresários, profissionais liberais e trabalhadores de hoje, inclusive professores. O que esperar deles?

Mais tarde, filhos de amigos que os tiveram mais tarde (cerca de 5, 7 anos de diferença) também estudaram lá e alguns até o final do ensino médio. A formação foi muito boa, mas seus pais também observavam as mesmas preocupações que eu. 

Acompanhando o desenvolvimento deles, percebia que bons alunos eram mais bem aceitos por lá e que os mais problemáticos acabavam, com mais dificuldades, sendo aprovados ao final .

Há dois anos uma amiga pediu indicação sobre o colégio. Eu disse que aprovava e contei da herança que deixaram aos meus filhos e aos de amigos.

A tal aluna foi matriculada. A menina vem de uma família de gente muito dedicada aos estudos, é tremendamente inteligente e esforçada. Estava nos últimos anos do fundamental. Suas notas eram todas máximas. Em pouquíssimo tempo (algo como 3 meses) passou a ser isolada pelos colegas, ridicularizada, enfim, o tal do bullying. Sugeri a mãe que procurasse a escola porque eles tomariam alguma providência. Ela foi, e para minha surpresa foi dito à ela que sua filha não se adaptara a escola!! A mãe, diante de tal falta de pulso, tirou-a do colégio, claro.

Espantada, comentei o fato com uma ex aluna que estudou na escola a vida inteira. Ela ainda não me explicou porque, mas a filha dela não foi matriculada lá...

Até aqui, podemos registrar dois erros graves:

1 - A escola que ao invés de estimular a responsabilidade dos alunos, fecha os olhos para interferências sem ética alguma dos pais.
2 - A escola que para não ter um trabalho danado, evita lidar com o bullying em relação a alunos acima da média, defendendo os menos interessados.

Agora, outro dia, vejo que minha neta ganhou fora de hora (não era aniversário, natal, etc) um desses jogos eletrônicos caros e sofisticados.

 Fiquei quieta, mas logo veio a explicação. No primeiro "dia de levar brinquedo", uma espécie de "casual day" infantil,  minha neta (6 anos) escolheu um livro de colorir com jogos do tipo forca, pontilhados.... no segundo, as bonecas favoritas, depois sei lá o que , mas sempre brinquedos, coisas de crianças.

 Só que a mãe dela percebeu que ela chegava em casa contando que os colegas levavam lap tops, video games e celulares (ela tem um mas não leva pra aula!) e por isso comprou o tal aparelhinho.



Eu não sei o que vocês acham disso.

Eu, sou a favor 100% da inclusão da tecnologia nas aulas, afinal, essas crianças já nasceram digitais e é inegável que esses instrumentos ampliam o mundo de qualquer um.

Porém, também sou 100% favorável à manutenção daquilo a que se chama infância!! Um tempo de interação, de socialização e aprendizado.

Pular das brincadeiras inocentes que nos ajudam a construir nossa realidade futura, para um mundo digital onde temas como violência, disputas acirradas, morte e renascimento instantâneos e sem consequências estão sempre presentes, pode fazer com que percamos totalmente o fio da meada de nossa sociedade...

E aí, registro aquele que chamo de erro número 3 - A escola sendo conduzida e não conduzindo.

Já combinamos que falaremos do fato na próxima reunião.

Afinal, escreveu e leu o pau comeu???

Aqui, prefiro a tradição no lugar da tal evolução.