sábado, 24 de novembro de 2012

Eu e o Funk Parte 1


O sucesso do documentário do qual meu filho é um dos produtores http://www.youtube.com/watch?v=5V3ZK6jAuNI&feature=plcp  me deixou com muita vontade de voltar no assunto arte/educação/desenvolvimento.

Então, antes que alguns comecem a gritar que funk não é arte, vamos lá!

Primeiro uma definição, de um site muito consultado especialmente no meio escolar, o Info Escola:

"A designação do termo Arte vem do latim Ars, que significa habilidade. É definida como uma atividade que manifesta a estética visual, desenvolvida por artistas que se baseiam em suas próprias emoções. Geralmente a arte é um reflexo da época e cultura vivida. (..) A Arte é desenvolvida com o intuito de mostrar o pensamento do artista e expressar os sentimentos, por meio de correntes de estilo e estéticas diferentes."

E todo mundo sabe que ela se manifesta por diversos canais: pintura, desenho, escultura, fotografia e música.

O que é música? Na Wikipedia  "A música (do grego μουσική τέχνη - musiké téchne, a arte das musas)[1] é uma forma de arte que se constitui basicamente em combinar sons e silêncioseguindo uma pré-organização ao longo do tempo.[2]
É considerada por diversos autores como uma prática cultural e humana. Atualmente não se conhece nenhuma civilização ou agrupamento que não possua manifestações musicais próprias. Embora nem sempre seja feita com esse objetivo, a música pode ser considerada como uma forma de arte, considerada por muitos como sua principal função.(..)Para indivíduos de muitas culturas, a música está extremamente ligada à sua vida.

Portanto, temos aí uma manifestação de arte (a música e a dança) fortemente influenciada pelo meio culural que a produz.

Não estou discutindo se eu ou vocês gostamos de funk. Mas, o fenômeno está aí, as barreiras sociais estão derrubadas e o ritmo cresce na mídia alcançando todas as camadas sociais.

Aí, fico tentando entender, querendo escrever à respeito e não me acho, porque não vou parar neste post... O Funk vem se mostrando um fenômeno social tão forte que merece discussões sobre todos os seus aspectos. Hoje falo apenas da música e da dança  em si, alvo de preconceito e rejeição de muitos e adoração para outros tantos.
Vale lembrar, que tudo que é novo ou "desviado" da ordem vigente causa espanto.

Isto aconteceu sempre, da música erudita (e seus diversos compositores ao longo dos séculos) passando no caso do Brasil pelo samba, amplamente rejeitado nos primeiros tempos, ao rock no mundo todo.

Quem não conhece a rejeição sofrida no início por Elvis Presley, por exemplo? Seus movimentos sensuais escandalizaram o mundo. 

Quantas meninas inglesas foram trancadas em casa por seus pais para não irem a shows dos Beatles dos primeiros tempos? 

Quanta gente achava um horror o clima de Woodstock?

Samba era coisa de preto/ pobre /marginal     até muito pouco tempo... ou estou enganada?

Aí vem o funk, com suas letras altamente agressivas (os tais proibidões), fruto do meio social em que vivem seus compositores. É praticamente uma descrição de seu dia a dia. E quem já esteve na periferia de cidades como São Paulo e Rio, sabe que não há exagero nas letras.

Sou a favor dessa temática? Não. Acho que apenas sedimenta um pensar, um sentir violento, coisa que o mundo não precisa, já tem demais! Mas é real e socialmente justificável.

Agora, destaca-se uma nova fase do Funk, o chamado Funk Ostentação, que  será o tema  das minhas "análises" no próximo post . Como é possível constatar no documentário,  a nova fase reflete a alegria das classes D e E (de onde geralmente vem os compositores) com sua "ascensão social". Porém, poucos fora do "meio produtor" do Funk param para ouvir as letras o suficiente para compreendê-las, mesmo porque, há tanta gíria e tantos erros, que muita gente vai torcer o nariz mesmo. A situação me faz lembrar (e portanto, parar, ouvir e pensar a respeito) aquela situação bem conhecida dos mais velhos e que acontecia lá nos anos 60, 70, onde os "patrões" diziam que não assistiam o programa Silvio Santos e outros no gênero, e quando eram pegos em algum comentário sobre o tal programa, diziam que haviam passado pela porta do quarto da empregada....  

Quando comecei a pensar em falar a respeito, e já disse, vou fazer um outro post tentando analisar outra parte deste fenômeno, fiz algumas elocubrações... eram mais ou menos assim:
- o Funk tem um ritmo contagiante, difícil não "se mexer" 
- de mulher e homem bonito todos gostam
- sensualidade? ou mais! excitação sexual? quase todos gostam, os que dizem que não... vai saber... 
- champange, Wiskhy caro, vodka russa? muitos gostam.
- carros e motos potentes, relógios caros, barcos, jóias? quase todos gostam.
- dinheiro? TODOS gostam e querem.
- Fama, status? pouquíssimos dispensariam...

Então por que diabos não paramos de criticar e encontramos uma função mais positiva para esse estilo musical????

Mas isso, vocês talvez só entendam depois do próximo post.

Um funk ao menos de que eu goste? Claro... vá lá! Um clássico que vivo cantando e já dancei muito!


Até o próximo!



3 comentários:

  1. Que tema polêmico!!!

    É sem dúvida um fascinante estudo, e você o está desenvolvendo e forma cuidadosa e clara... Sim, já fiz esta reflexão que o funk reflete...

    Enfim, faço parte da campanha: doe um fone de ouvido a um funkeiro rs Mas, gostei da análise e esperarei o próximo post...

    Beijocas/curiosas :)

    ResponderExcluir
  2. olha, não moro em rio/sp. aqui no nordeste o que movimenta ainda é forró/sertanejo/pagode. mas o funk é nacional, lembro da minha adolescência e do planeta xuxa, onde a xuxa começou a propagar nacionalmente esse ritmo, as letras ainda não eram tão sexuais como hoje em dia, era um funk mais melódico, como o que vemos atualmente na série da globo subúrbia, que é ambientada nos anos 90. o funk mudou muito desde essa época, mas continua presente, na maioria das vezes, na periferia. não deixa de ser arte, não deixa de ser música, não deixa de ser manifestação cultural. os mais conservadores tentam subestimar esse movimento do funk, mas a ascenção das classes D e E vem consolidando-o como importante manifestação cultural.

    ResponderExcluir
  3. Oi, Patrícia, valeu por mencionar no twitter.

    Concordo demais sobre essa questão de arte. Aliás tenho um livro em vias de publicação que trata um pouco dessa assunto, dessa ditadura da Arte, de meia dúzia de pessoas decidindo que é ou não arte.

    Temos um longo caminho a seguir ainda para que haja algo parecido com respeito às diferentes manifestações culturais da sociedade como um todos, a escola, que deveria contribuir para isso, é a primeira a contribuir para a disseminação do preconceito, sigamos na luta.

    Algumas partes do post ficaram bem pequeninas, talvez compense dar uma arrumadinha, viu.

    Bjus e parabéns!
    Rosana Rogeri

    ResponderExcluir