Antigamente era assim : pais e professores eram as autoridades maiores na vida de crianças, adolescentes e até adultos jovens. Enquanto não se tornassem pais, os filhos dificilmente questionavam essas figuras. Mesmo depois, um olhar de questionamento ou reprovação deles dizia tudo e pensava-se seriamente em uma mudança de rumo.
Ainda havia outras figuras de autoridade a serem respeitadas como os sacerdotes, os policiais, os médicos, os advogados e tantos outros.
Pessoas que estudaram até os anos 40, começo de 50, relatam (com um sorriso saudoso nos lábios) que desvios de norma ou falhas de aprendizagem eram punidos com algum tempo ajoelhado no milho, com a palmatória ou com repetições intermináveis das lições não compreendidas. Ainda lidava-se com as reprimendas dos pais que eram comunicados pela escola, em geral pela diretora ou professora que era aquela vizinha da casa bonita lá na esquina.
Essas mesmas pessoas aprenderam (em geral muito bem) a língua pátria, sua origem, o latim, sabiam as capitais dos Estados, dos países, tinham como definitivos os registros da história. Faziam cálculos matemáticos "de cor e salteado", usavam coisas como a tabela Price. Ou seja, aprendiam. E aprendiam , não tenho medo de dizer, mais do que quem chega hoje ao ensino médio, ao menos na maioria das escolas.
De meados de 50 até 70, a coisa já era um pouco diferente, embora a questão do respeito à autoridade ainda fosse levado muito à sério. Mas, começaram a questionar a utilidade de alguns conteúdos como o latim, os conceitos de moral e civismo e com o boom da psicologia e dos estudos da pedagogia, "suavizou-se" a questão da disciplina, dos castigos e punições pelo desempenho ruim tanto em aprendizado como em comportamento. As pessoas ainda aprendiam, mas já bem menos do que na geração anterior.
Já eram visíveis as diferenças entre escolas públicas e privadas. Enquanto até o começo dos 70 as públicas eram as melhores e as mais concorridas crescia o número de escolas particulares que traziam inovações pedagógicas.
As escolas públicas já não existiam em número suficiente para todos, os primeiros relatos de insatisfação com salários começaram a surgir. Nas particulares (não todas é claro) um sobrenome importante, ou apenas uma grande conta bancária, passavam a ser passaporte para a aprovação.
No meio disso, houve a necessidade de que a maioria das mães entrassem no mercado de trabalho. Mais ausentes e ocupados, os pais passaram a não mais acompanharem de perto os atos e fatos da vida escolar dos filhos. Os filhos, por sua vez, relaxaram um pouco na auto exigência. Faziam o necessário para a aprovação.
À essa altura do campeonato, as figuras de autoridade foram perdendo terreno. Um "delito" comportamental ignorado somava-se a outro e mais outro. Ainda havia alguma conversa sobre respeito e coisa e tal, mas ela já não surtia um efeito duradouro. Jovens de boa parte do país, transferiram a ideia de admiração e respeito pelas autoridades habituais, para aquelas mostradas pelo cinema, pelas letras das músicas que difundiam ideias sobre o que era ser importante, o que era "bacana", "legal". E nesses novos conceitos não havia espaço para aquele comportamento antigo.
Nas escolas, ainda se optava pela área de estudo preferida: biológicas, humanas, exatas, magistério... e seguia-se ao menos em assuntos que interessavam a cada um.
Com vistas ao crescimento do país, ao assemelhar-se ao mundo desenvolvido, as mudanças começaram a acontecer cada vez mais rapidamente.Principalmente nas escolas públicas que começaram a se multiplicar para atender a demanda, a sobrecarregar os professores com um número cada vez maior de alunos por sala. As instalações já não eram mais tão bem cuidadas e os currículos foram mais e mais modificados, tornando-se restritos ao que parecia absolutamente necessário.
Nas particulares, o crescimento de novas técnicas tomavam forma, formavam bons alunos que também tinham melhores condições econômicas e que portanto, ocupavam os bons postos de trabalho ao final dos estudos. Mas a cada ano, esses privilegiados eram em menor número.
De meados de 70 em diante, sabe-se lá o que aconteceu! Pais atarefados e professores sobrecarregados perderam a capacidade de dialogar e dividir responsabilidades. Já não se sabia mais o que era melhor aprender. Disciplinas eram substituídas, reintegradas e descartadas de tempos em tempos. Ou seja, irmãos por exemplo, já não recebiam a mesma formação.
Paralelamente, a legislação sobre direitos "evoluiu" chegando lá pelo final dos 80 ao ápice da interferência legal na educação de jovens e adolescentes. A psicologia e a pedagogia, vão tornaram-se contrárias a qualquer tipo de "opressão" e liberdade é a palavra da vez. Pais sentem-se envergonhados e professores proibidos de repreender ou punir alunos. As crianças e os jovens, claro, sentiram´-se cada vez mais à vontade para agir da forma que quisessem....
E quem na infância e na adolescência gosta ou almeja dedicar´se horas aos estudos ou dizer um sim, mesmo que a contra gosto às exigências e diretrizes dos pais?
As coisas foram invertidas (la por meados de 80) ao ponto de vermos pais discutindo com professores por terem sido muito rigorosos na avaliação de alunos, pais que executam tarefas no lugar dos filhos, de forma claríssima mas ignoradas por professores....Junte-se à isso a aprovação continuada e a Lei que impede pais e professores de "molestar" seus filhos com um tapa ou um discurso de horas que permite ao filho acusá-lo de repressor, aquele que traumatiza o pobre coitado que só quer beber álcool aos 14, viajar com amigos aos 15, chegar em casa às 3....
Onde foram parar as figuras de autoridade de que falei lá no começo?
Bem, os pais de hoje, pouco sabem da vida dos filhos, afinal apesar de muni-los de fontes de comunicação, estão sujeitos à sua capacidade e coragem em mentir sobre onde estão, com quem ou fazendo o que querem.
Professores perderam-se nas teorias de ensino que lhes foram impostas mas das quais não conseguem uma folha inteira de justificativas de aplicação. Também estão proibidos de reagir às agressões físicas e verbais a que estão expostos continuamente.
As outras figuras de autoridades como medicos, políticos, sacerdotes, advogados estão hoje nas páginas de escândalos quando não nas policiais.
Aí, hoje tive contato com um "Programa de educação em Valores Humannos" , para ser ensinado nas escolas. Tudo bem, acho o instrumento válido e do jeito que a coisa está um bom caminho. Mas faz sentido necessitarmos disso? Vivenciar o dia dia baseados em valores humanos não é uma condição mínima para nos considerarmos isso, seres humanos?
Por mais que eu queira, não consigo ser otimista diante de tamanha degradação.